“Estaremos sozinhos no Universo?”
Questionei-me novamente, com o olhar fixo no céu. Já
não tinha tempo para descobrir a resposta. A Lua aproximava-se do Sol.
Coincidência ou destino, a nossa destruição ocorreria
durante um eclipse.
Por coincidência ou destino, não precisaria de procurar o local ideal para assistir. O evento final aconteceria ali mesmo, visível do meu jardim.
Por coincidência ou destino, não precisaria de procurar o local ideal para assistir. O evento final aconteceria ali mesmo, visível do meu jardim.
Senti a temperatura baixar à medida que a Lua avançava
firmemente sobre o Sol. O silêncio era apenas interrompido pelo grunhido das
aves que pairavam no ar, inquietas. Um arrepio percorreu-me a espinha.
Dedicara-me de corpo e alma à descoberta de vida
inteligente no Universo. A vida erudita que levei exigiu a minha solidão. No
esforço de solucionar uma das maiores dúvidas do ser humano, esqueci-me como
era ser um ser humano. Habituara-me a estar sozinho; estava preparado para morrer
sozinho.
A luminosidade decadente anunciou-me que a escuridão total
estava próxima. Lá em cima, a Lua ocultava metade da nossa estrela.
Ainda teria tempo
de fugir? Não, já não podia fugir. Eu não queria fugir. Era uma sensação
indescritível ser o único terrestre na Terra.
Quando tomou conhecimento da ameaça de extinção, a
humanidade fugira para outro planeta, o mais adequado que conseguira encontrar.
Um planeta inóspito, árido, em que o ser humano lutaria a cada segundo pela
própria sobrevivência.
Eu decidi ficar. A vida, sem as condições para
continuar a realizar as minhas pesquisas, deixaria de ter sentido. Restava-me
observar o espectáculo antes da minha morte.
A Lua e o Sol finalmente fundiram-se. No crepúsculo
que me envolvia, distingui no céu as estrelas mais brilhantes. O impacto
ocorreria em dois minutos.
O meu coração acelerou e súbitas rajadas de vento
quase me fizeram cair. Já conseguia vê-lo.
À medida que ia galgando a atmosfera tornou-se
perceptível como era extenso. Com mil e quinhentos metros de diâmetro, ocultou
o eclipse e o crepúsculo deu lugar à noite. O objecto estava terrivelmente
próximo da superfície. Eram os meus últimos segundos de vida.
Nesses derradeiros segundos, o meu cérebro não transmitiu
imagens dos meus amigos ou familiares. Não os tinha. A minha mente de
cientista, a mesma que me condenou à solidão, imaginou a cratera de impacto com
mais de vinte quilómetros de extensão. A quantidade de poeira que seria lançada
para a atmosfera após a colisão, iria bloquear a luz solar e aniquilar a maior
parte das coisas vivas do nosso planeta.
De pé, com os braços estendidos, fechei os olhos e não
ousei respirar. Era o fim.
Inesperadamente, o vento acalmou e um raio de luz inundou-me o rosto. A Lua abandonava o Sol, o eclipse total terminara. Olhei à minha volta.
Atrás de mim, o enorme objecto planava pouco acima da
minha cabeça, sem emitir qualquer som ou ruído. Não era o asteróide que todos
receávamos; era algo transcendente à minha banal existência. Sentia-o. Via-o. Era
o acontecimento que dava significado à minha vida.
Quando aterrou e abriu os enormes portais, fui o
primeiro humano a saber a resposta: Não estamos sozinhos no Universo.
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